segunda-feira, 10 de novembro de 2014


VIOLÊNCIA GERA VIOLÊNCIA!


Artigo publicado na X Semana Científica do UNILASALLE 2014


VIOLÊNCIA DE GÊNERO NAS ESCOLAS: SENSIBILIZANDO PROFESSOR@S
Arlindo Weber de Oliveira, Maria de Lourdes Borges, Paula Pinhal de Carlos
(UNILASSALE)

Resumo

Este artigo objetiva pensar em uma maneira para sensibilizar professores sobre o problema da violência de Gênero nas Escolas, como produto final do Mestrado em Memória Social e Bens Culturais em fase de conclusão pelo primeiro autor. Procedeu-se a uma pesquisa aplicada sobre o tema em sete escolas em situação de vulnerabilidade social no município de São Leopoldo/RS. Os resultados apontam que o problema é nebuloso e que envolve questões tais como currículo oculto, violência implícita e explícita, bem como bullying homofóbico.

Palavras-chave: violência, gênero, escolas.

Área Temática: CIÊNCIAS HUMANAS

1. Introdução

Diante do contexto descrito de constante convívio com situações de violência nas escolas contempladas pelo Programa Educacional de Resistência às Drogas e à Violência (PROERD) de São Leopoldo (RS),  percebe-se que há uma questão de pesquisa importante a ser estudada sobre o tema da violência nas escolas. A oportunidade de pesquisa gira em torno da busca pelo entendimento de como acontece a violência de gênero dentro das escolas que são atendidas pelo PROERD, nas quais o pesquisador trabalha como policial militar e instrutor do referido programa.
Por conta disso, entende-se que o tema da violência de gênero é importante, especialmente em um contexto de escolas que se deparam frequentemente com tais situações envolvendo violências dos mais diversos tipos. Muitas vezes, o fato de não pertencer ou de não respeitar o gênero oposto, é o fator motivacional para uma ação violenta. Em alguns casos de violência relatados por professor@s, o motivo de ações violentas era pelo fato de uma menina ir com uma roupa mais curta ou pelo fato de um menino estar brincando com meninas na hora do recreio, por exemplo.
A pesquisa surge diante de uma realidade escolar existente onde alun@s estão sendo vítimas/autor@s de atos de violência de gênero em ambiente escolar, às vezes de forma clara e de outras, subentendidas. Em alguns casos, quando professor@s se deparam com situações em que alun@s não se encaixam nos estereótipos de gênero previamente designados, há o surgimento de uma possível  violência de gênero, pelo fato de apresentar diferença em relação ao  gênero . Por exemplo, em atividades esportivas, muitos meninos não permitem que meninas participem de jogos, tido por eles, somente de meninos. Em outros momentos, onde meninas estão jogando e convidam alguns meninos para participar, os que aceitam, são zoados e chamados de “mulherzinha e mariquinha” (sic). Essas experiências ocorrem em ambiente escolar e são geralmente presenciadas por professor@s. Existem, também, aqueles momentos não explícitos, mas que fazem com que menin@ seja excluído do grupo ao qual pertencem, causando sofrimento. Essas manifestações tanto explícitas quanto implícitas estão presentes no dia-a-dia dessas crianças e adolescentes e que precisam receber uma atenção especial.
Em função disso, este artigo objetiva pensar em uma maneira para sensibilizar professores sobre o problema da violência de Gênero nas Escolas, como produto final do Mestrado em Memória Social e Bens Culturais em fase de conclusão pelo primeiro autor. Procedeu-se a uma pesquisa aplicada sobre o tema em sete escolas em situação de vulnerabilidade social no município de São Leopoldo/RS. Para atingir ao objetivo é apresentado inicialmente o referencial teórico sobre o tema, a metodologia, em seguida os resultados e discussões e as considerações finais.


2. Referencial Teórico

Um fator de importante relevância é o fato de que a violência é vista por como uma das maiores preocupações dos brasileiros, independentemente de ser morador de um grande centro ou não. Outro fator importante é a relação das formas de violência apresentada pela autora e as formas de violência que pretende-se estudar (explícita e implícita).  Para Safiotti (2010, p. 17), a forma psíquica e a forma moral não são palpáveis, ou seja, não possibilita a sua visualização, sendo assim apresentadas de forma implícita. Já as demais formas (física e moral) são passíveis de mensuração, sendo observada na forma explícita. Essas duas formas (implícitas e explícitas) se expressam de formas distintas em ambientes escolares, por exemplo, a violência implícita que difere da explícita por não apresentar uma consequência aparente, pode ser  mais perigosa pois se manifesta por meio da repressão e da privação do direito de ser e de pensar diferente dos demais (MOURA, 2005). Observa-se também com relação às duas formas que as violências se apresentam em ambiente escolar é a sua identificação por parte de professoras e professores. Como apresentam características distintas, a violência implícita poderá ser confundida com atos de indisciplina e também por muitas vezes não ser considerada como uma violência. Como não há a possibilidade de combater e de se observar, devido as suas características específicas, é possível que possa se tornar uma ação tida como “normal” e “natural” entre meninas e meninos , contribuindo assim para a banalização da violência. Já a violência explícita que é de fácil visualização, poderá ser observada e controlada pela escola, passíveis de punição.
Portanto, como não há um conhecimento e por sua vez um entendimento muitas vezes de professoras e professores sobre o assunto, muitos atos de violência que ocorrem em ambientes escolares podem ter como origem uma violência implícita que não foi visualizada ou interpretada de forma errada, originar um violência explícita ou até mesmo uma violência grave de grande representatividade. Precisa-se proporcionar a instituição escola mecanismos que envolva toda a comunidade escolar, afim de identificar como a violência implícita e explícita ocorre. Com essa abordagem ao tema, é possível um discurso único da instituição escola em relação a violência existente na escola.
De acordo com A.Oliveira (2010), em um estudo realizado em escolas do município de São Leopoldo/RS no ano de 2010, a violência esteve presente em todas as escolas pesquisadas, independe de estarem localizadas em um bairro com maior ou menor vulnerabilidade social. Segundo o autor, que é o mesmo da presente pesquisa, a violência está presente em escolas públicas e privadas daquele município, tornando-se assim um fator preocupante tanto para a comunidade escolar quanto para as autoridades policiais locais.
Distinguem-se os papéis do homem e da mulher na família, na escola, nas instituições religiosas, no trabalho, nas organizações públicas e privadas. Os papéis sociais atribuem determinados jeitos de ser aos homens e mulheres como se fossem da sua natureza, mas na verdade são características culturais e sociais (construídas, transmitidas e exigidas pela sociedade), como exemplo: pensar que a mulher é frágil e que homem não chora. Falar de gênero e de relações de gênero não é falar só de mulher, mas sim de jeitos de ser, de relações entre homens e mulheres, de todas as relações: as sociais, culturais, econômicas e até as religiosas (CORNAGLIA, 2004). Com isso, podemos dizer que o feminino e o masculino não fazem referência só ao conceito de homens e mulheres, sua referência é muito mais ampla, inclui também as atitudes, jogos, formas de pensar e agir, de fazer e de relacionar-se com o mundo e com os outros e outras (CORNAGLIA, 2004).
Gênero, portanto, não é sinônimo de sexo, uma vez que esse significa biologicamente homem e mulher e gênero a construção social do indivíduo dependendo dos padrões culturais. "As relações de gênero são fenômenos sócio-culturais que estruturam a perpetuação da vida humana em sociedade, de modo fundamental e enigmática, como sistemas de parentesco." (STOLKE, 2004, p.78, tradução nossa).
As relações de gênero ocorridas na sociedade são responsáveis pela construção social dos indivíduos que irão ser característicos de acordo com o meio cultural no qual se está pertencendo.
A violência de gênero pode ser produzida ou reproduzida em todos os espaços da sociedade, inclusive na escola. Observamos ao logo dos textos estudados, que há a necessidade de se transformar pensamentos em práticas que promovam discussões em ambientes escolares com o intuito de promover ações que possam inibir esse tipo de violência. Ações educativas possibilitam a reflexão individual e com isso uma construção coletiva em ambiente escolar de forma orientada por profissionais capacitados, pois exercem um papel importantíssimo de aprendizado.
Quando falamos em violência de gênero nas escolas estamos contemplando todos os atores envolvidos nesse processo. Alun@s, professor@s e também a própria escola. A escola é um espaço de socialização e de construção para  alun@s . Para que isso aconteça é necessário que se tenha um aprendizado e uma convivência harmoniosa respeitando as diferenças geradas pelas desigualdades. Isso precisa ficar claro para que não ocorra conflitos gerados por desigualdade de gênero.

Para Yamasaki (2007),

as brigas entre alunas são práticas e atos de agressão mais visíveis e muitas vezes transformadas em pequenos espetáculos públicos em portas da escola. Os depoimentos a que tivemos acesso, entre as diferentes escolas mostram que é a ocorrência mais frequente entre as violências escolares e tal incidência pode ser melhor compreendida na escola e pelos profissionais se for desenvolvida uma pesquisa que relacione a questão de gênero em contexto contemporâneo e a violência escolar.

Portanto, observa-se um aumento desse tipo de violência, como traz a autora em sua pesquisa, mostrando a importância de abordar o assunto em escolas hoje em dia. Para substanciar a magnitude do tema, o pesquisador traz também como objeto de análise, um  vídeo8, onde mostra a briga de duas meninas na saída de uma escola em São Leopoldo. Observa-se uma verdadeira “arena” formada por expectadores que acabam por incitar o cometimento da violência, tornando-se pela interpretação do pesquisador, co-autores de violência.

3. Metodologia

A metodologia utilizada é qualitativa. A escolha por uma pesquisa qualitativa deu-se em função da busca pela coerência com o objetivo proposto, o qual não busca enumerar e tão pouco quantificar os dados e nem os possíveis casos viessem a emergir. A análise dos dados de sete entrevistas semi-estruturadas busca, de forma ampla, entender os fenômenos de forma a interpretá-los.
A pesquisa teve sete fases distintas, iniciando com a busca pelo entendimento teórico e delimitação do tema, em seguida ocorreu o contato e aceite das escolas e professor@s. Depois disso, foram realizadas as sete entrevistas, coleta de dados como observações e reportagens em áudio e vídeo. Depois foi a vez da realização da sistematização dos dados que consistiu em transcrição das entrevistas/observações/reportagens. Seguiu-se da análise dos dados propriamente dita fundamentada na Análise de Conteúdo, terminando com as considerações finais e confecção do produto.
Portanto, após a realização das sete entrevistas que ocorreram em sete escolas públicas de São Leopoldo (RS), partiu-se para uma segunda fase da pesquisa que foi a transcrição dessas entrevistas realizadas pelo pesquisador. Essa fase de transcrição foi a mais demorada, por se tratar de uma trabalho de escrita de expressões e relatos gravados. Após concluída as transcrições, partiu-se para  a categorização dessas entrevistas. Nesse momento, foram agrupadas as entrevistas que apresentaram características semelhantes e que estavam ligadas aos objetivos da pesquisa.

4. Resultados e Discussões


A partir da análise dos dados sobressaíram as seguintes categorias analíticas: Preconceito com relação à gênero; currículo oculto, bullying; bullying homofóbico. A partir das categorias emergidas, partiu-se para a última fase que foi a análise dos resultados obtidos através das entrevistas. A análise dos dados aconteceram de forma a identificar a ocorrência de casos envolvendo violência de gênero nos relatos transcritos. A partir do momento que os dados foram agrupados em determinada categoria, foi possível a sua análise em cima dos casos emergidos das gravações. Foram identificados  trechos da fala de professor@s onde ficou registrado o momento da ocorrência e cruzado com o embasamento utilizado no referencial teórico deste trabalho. Foram agrupados todos os relatos encontrados dentro de cada categoria e passando para uma próxima após observações feitas pelo autor com base nos teóricos utilizados na pesquisa.
Por fim, o resultado da análise dos dados obtidos através das entrevistas, serão os motivos que levou esse pesquisador a propor o produto final aqui apresentado como resultado do Mestrado Profissional em Memória Social e Bens Culturais. O pesquisador observou que os resultados obtidos responderam em parte aos objetivos gerais e específicos, uma vez que percebeu ausência de violência de gênero. As interpretações realizada pelo autor revelam o quanto é sutil a violência de gênero.
            As análises das evidências demonstraram que a percepção do fenômeno da violência  nas escolas estudadas, é  resultado da ação e/ou omissão apresentada pelos diversos atores que convivem no ambiente escolar e das relações que estabelecem entre si.
            Percebe-se que professo@s podem estar com a visão embotada para o tema violência de gênero. Isso fica claro quando da análise da percepção apresentada por alguns profissionais que fizeram parte da pesquisa. Para Bergamini (2009), “percepção é o processo de receber, responder a, processar, armazenar e usar estímulos para compreender e elaborar nossa visão de mundo.” Portanto, com exceção de um professor que possui qualificação na área, os demais participantes da pesquisa não possuem conhecimento em relação ao tema violência de gênero e mais, acabam através dos seus estímulos (suas experiências) sobre o mundo, confundindo com outras formas, como a violência física por exemplo. Outro fato de importante relevância foi o grande número de casos envolvendo preconceito dos próprios professores relacionados à gênero. Esse preconceito poderá ocorrer através dos estímulos (visão, audição, olfato, paladar e tato) e que quando processados, geram informações. Essas informações por sua vez, irão retratar aquilo vivenciado pela professora ou professor.
A autora Bergamini  (2009) , traz ainda que cada personalidade é diferente pelo fato de usar suas próprias lentes de percepção social para a interação, ou seja, lentes mais nítidas, mais próximo da realidade mantendo um vínculo mais afetivo e lentes menos nítidas, interpretam as informações do mundo exterior conforme suas crenças, valores e atitudes. Bergamin (2009), usa a metáfora do óculos para explicar a percepção de cada professora ou professor. Cada pessoa usará suas próprias lentes de percepção social para a interação, ou seja, se a professora ou o professor possuir um óculos cujas lentes estão mais nítidas, significa que este docente está mais próximo da realidade, se mantendo atualizado, informado e atento aos acontecimentos. Já aquele profissional que possui um óculos cujas lentes estão menos nítidas, acabam interpretando as informações de acordo com o suas crenças, valores e atitudes (de maneira subjetiva).
Essa reflexão trazida, vem ao encontro dos resultados obtidos durante a pesquisa. A percepção mostra a realidade existente hoje sobre o tema violência de gênero. Muitos conhecem ou até já foram vítima de algum tipo de violência, mas na hora de identifica-la ou de falar sobre suas formas não conseguem. Não estamos aqui culpando professor@s, bem pelo contrário. Estamos mostrando a realidade e a fragilidade com relação a qualificação a respeito do tema. Esse desconhecimento leva a não abordagem do tema devido ao incompreensão sobre o assunto, dando preferência para outro tema “mais relevante”.
            Do mesmo modo, pode-se observar uma limitação do método utilizado na pesquisa, pois optou-se por verificar o tema da violência de gênero na percepção de professor@s. Para surpresa do pesquisador, tais professor@s parecem encontrar-se com uma visão  “embaçada”  para situações de violência de gênero nas escolas. Mais do que dizer que não houveram evidências de violência de gênero, pode-se compreender que tais professores não percebem muitas situações por eles vivenciada como sendo de violência de gênero, como por exemplo, os inúmeros casos envolvendo preconceito dos próprios docentes. Tal achado torna a situação da violência de gênero ainda mais grave, pois se professor@s, a quem se espera que lidem com as várias situações diárias do ensino e do comportamento de alun@s  (inclusive de violência em geral e também as de gênero), não percebem as situações de violência de gênero, como vão lidar com elas? Como vão instruir as alun@s? Como vão explorar tais situações de maneira a construir novas possibilidades de relações entre as  alun@s?
A escola pode ser um local privilegiado de combate à violência, mas, para isso, necessita também de profissionais qualificados permitindo a formação de valores e transmissão conhecimento. Para que isso seja possível, é preciso da participação de todos os atores envolvidos nesse processo que são as professoras e professores, diretoras e diretores, alunas e alunos, funcionárias e funcionários, pais e mães e também o Estado. Esse último, com políticas públicas voltadas a programas de fortalecimento da imagem da escola como lugar de conhecimento lazer e de cultura.
Portanto, como produto final do Mestrado em Memória Social e Bens Culturais é organizada uma palestra de sensibilização para professor@s sobre o problema da violência de Gênero nas Escolas, com o objetivo de ser um momento de reflexão sobre as práticas de tais professor@s de escolas que lidam diariamente com questões de violência de gênero.



5. Considerações Finais

Os resultados das análises indicam que a violência é uma realidade existente nas escolas estudadas. Apresenta-se de várias formas e para que se possa evitar a sua continuidade é necessário identificar medidas para que a escola se apresente como espaço seguro para seus integrantes. Por isso, essa iniciativa  proposta pelo autor, tem como finalidade de buscar através da prevenção, diminuir os casos de violência, especificamente casos de violência que envolvam “gênero”. São medidas como essa, que implantadas e trabalhadas de maneira séria e consciente, poderão contribuir para a diminuição de casos violentos em escolas.
Portanto, a sugestão da proposta da aplicação de palestras de sensibilização através do produto final dessa pesquisa, proporcionará @ profess@r uma alternativa simples de combate à violência onde possibilitará a abordagem de maneira transversal. Os temas transversais são constituídos pelos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN's) e compreendem  áreas que deverão ser trabalhadas em conjunto com as disciplinas existentes, entre elas a pluralidade cultural (BRASIL, 1997). Portanto, temas transversais são um conjunto de assuntos que devem ser trabalhados pelas escolas com alun@s de modo a fomentar ações com as disciplinas existentes. Não são novas disciplinas mas sim, assuntos necessários para uma prática educacional voltada para a compreensão da realidade social e dos direitos e responsabilidades em relação à vida pessoal, coletiva e ambiental (BRASIL, 1997).

Referências

BERGAMINI, Cecília Whitaker.  Psicologia aplicada à administração de empresas: psicologia do comportamento organizacional.  4. ed. São Paulo: Atlas, 2009. 197 p.

BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais : apresentação dos temas transversais, ética / Secretaria de Educação Fundamental. – Brasília : MEC/SEF, 1997.146p.
CORNAGLIA, Graciela Patrícia. Prevenção à violência contra as mulheres. São Leopoldo: CEBI, 2010.

MINAYO, M.C.S. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. 4. ed. São Paulo,
1996.

MOURA, A.C.S. A violência nas práticas educativas e sua relação com o fracasso escolar. Congresso Ibero-Americano de Violências nas Escolas, 2., 2005, Belém do Pará. ANAIS do II... Belém, 2005.

OLIVEIRA, A.W.de. Análise da violência em escolas públicas e privadas de bairros de classe social a, b, c do município de São Leopoldo – RS. 2010. 24 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Geografia) – Centro Universitário La Salle, Canoas, 2010.
2007. São Paulo. SP. Disponível em: file:///C:/Users/Oliveira/Downloads/TeseAliceYamasaki.pdf

STOLKE, Verena. La mujeres puro cuento: la cultura del género. Revista Estudos Feministas,  Florianópolis,  v. 12,  n. 2,  ago.  2004.   Disponível em:<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S010426X2004000200005&lng=en&nrm=iso>. Acesso em:  13  ago.  2013.


YAMASAKI, Alice Akemi. Violências no contexto escolar: um olhar freiriano. Tese de Doutorado. 

Custos com a violência no Brasil chegaram a R$ 258 bilhões em 2013 - Confira no link abaixo.

http://g1.globo.com/economia/noticia/2014/11/custos-com-violencia-no-brasil-chegaram-r-258-bilhoes-em-2013.html
Mapa da Violência no Brasil - 2014
Faça o download em PDF

http://www.mapadaviolencia.org.br/pdf2014/Mapa2014_JovensBrasil.pdf


sexta-feira, 12 de setembro de 2014


VIOLÊNCIA DE GÊNERO EM ALUNAS E ALUNOS NA PERCEPÇÃO E NOS REGISTROS DOS PROFESSORES DE ESCOLAS ATENDIDAS PELO PROERD (SÃO LEOPOLDO/RS)

VIOLÊNCIA DE GÊNERO EM ALUNAS E ALUNOS NA PERCEPÇÃO E NOS
REGISTROS DOS PROFESSORES DE ESCOLAS ATENDIDAS PELO PROERD
(SÃO LEOPOLDO/RS)

ARLINDO WEBER DE OLIVEIRA, MARIA DE LOURDES BORGES (Orient.), PAULA PINHAL
DE CARLOS (Orient.)

Área Temática:CIÊNCIAS HUMANAS

Resumo: O objetivo do presente artigo é analisar, a partir da percepção dos professores e dos
seus registros, as manifestações explícitas e implícitas de violência, ocorridas em escolas do
município de São Leopoldo/RS, cometidos por meninas e meninos em ambiente escolar.
Salienta-se que a presente pesquisa encontra-se na fase do projeto.

Palavras-Chave: Gênero; Violência de Gênero


Introdução

O fenômeno da violência acompanha o ser humano há muito tempo, fazendo parte da
vida cotidiana da sociedade, apresentando-se das mais diversas maneiras.
Diante do contexto de constante convívio com situações de violência nas escolas
contempladas pelo programa PROERD de São Leopoldo (RS), quando o primeiro
autor deste estudo entrou no mestrado em Memória Social e Bens Culturais do
UNILASALLE percebeu que há uma questão de pesquisa importante a ser estudada
sobre o tema da violência nas escolas. A oportunidade de pesquisa gira em torno da
busca pelo entendimento de como acontece a violência de gênero dentro das escolas
que são atendidas pelo PROERD, nas quais trabalho como policial militar e instrutor
do referido programa. Cabe ressaltar que as escolas não foram escolhidas
aleatoriamente para fins deste projeto, e sim em função de que se encontram em
situação de vulnerabilidade social no Município.
Por conta disso, entende-se que o tema da violência de gênero é importante,
especialmente em um contexto de escolas que se deparam frequentemente com tais
situações. A importância do projeto reside também na proposta de construção de um
produto que visa qualificar os professores sobre o tema violência de gênero,
pretendendo instrumentalizá-los para lidarem melhor com tais situações. Pretende-se,
portanto, contribuir através de material didático e de aplicação de um curso de
formação para professores, totalizando 40h.
Os assuntos relacionados à violência e especificamente à violência de gênero estão
sendo discutidos e abordados por instituições escolares mais frequentemente. Esse é
um tema que preocupa toda a comunidade escolar. Os professores deparam-se com
atos de violência implícitas ou explícitas e, muitas vezes, não estão capacitados para
tomar determinada ação ou para lidar com o problema. Na experiência como instrutor
do PROERD, por mais de uma vez percebi que alguns professores preferem fazerem
de conta que não estão percebendo, por optarem por não se envolver ou até mesmo
por medo de alguma repressão. Além disso, muitos professores desconhecem as
formas legais de ocorrências e encaminhamentos que são realizados quando
presenciam um ato de violência.
Assim, o objetivo geral da presente pesquisa é analisar, a partir da percepção dos
professores e dos seus registros, as manifestações explícitas e implícitas de violência,
ocorridas em escolas do município de São Leopoldo/RS, cometidos por meninas e
meninos em ambiente escolar. Já os objetivos específicos são: (a) analisar como são
percebidos pelos professores os casos de violência de gênero explícita entre alunos e
alunas; (b) analisar como são percebidos pelos professores os casos de violência de
gênero implícita entre alunos e alunas; (c) compreender se ou como são registrados e
encaminhados os casos de violência de gênero pela escola; (d) elaborar um curso
educativo voltado aos professores com o tema “violência de gênero nas escolas".
Assim, a discussão do tema da violência de gênero apresenta importância justamente
para a possibilidade de ajudar o professor a ter mais clareza sobre como agir diante de
atos de violência de gênero. Também é relevante pela contribuição que pode ser dada
como professor e cidadão, registrando em seus cadernos de aula ou em atas da
escola todos os acontecimentos presenciados por ele. Os avanços sociais e
empíricos são ressaltados na conclusão desta comunicação.
A capacitação proposta como produto técnico fruto da presente pesquisa ocorrerá a
partir da análise dos dados coletados na própria escola, partindo de estudos de casos
reais, ocorridos naquele ambiente e no contexto social no qual a escola está inserida.
Portanto, a realidade de cada escola será analisada a partir dos casos já existentes e
registrados. Tal pesquisa realizar-se-á em escolas estaduais e municipais de São
Leopoldo que estão em situação de vulnerabilidade social e que foram contempladas
com o programa PROERD (Programa Educacional de Resistência às Drogas e à
Violência).
O PROERD é um programa que apresenta uma grande aceitação por parte da
sociedade leopoldense e principalmente por parte de diretores, professores e alunos.
É mais um aliado que contribui com a resolução de questões difíceis de serem
abordadas, como é o caso das drogas e da violência. Percebe-se que, quando se
trabalha questões como prevenção à violência em determinada escola, os índices
acabam diminuindo ou até mesmo não existindo. É uma “parceria”, como é dito
informalmente por muitos professores, pois ajuda com questões sobre as quais não há
um conhecimento especializado por parte deles. Muitos professores já
sobrecarregados de tarefas diárias, ou muitas vezes exaustos por percorrerem várias
em escolas em busca de um melhor retorno financeiro, acabam encontrando no
policial PROERD uma ajuda para abordar esses assuntos.
Através da percepção dos professores que lidam com um contexto de violência na
escola, espera-se ser possível identificar as contribuições que a família, a escola e a
sociedade podem realizar na construção de um ambiente escolar sem violência.
Pensa-se que é fundamental a interação entre família, escola e sociedade para o
enfrentamento de um contexto de violência. A convivência em ambiente escolar, que
muitas vezes se manifesta de forma violenta, é sem dúvida fruto das relações e
experiências que esses adolescentes vivenciam. A família, junto com a escola, é uma
instituição fundamental que dá suporte ao crescimento físico, intelectual, emocional e
social dos indivíduos, atuando como propulsora ou inibidora. A principal contribuição
que se espera da escola refere-se ao conhecimento com uma preocupação no
processo ensino-aprendizado. Já a família deve fomentar o processo de socialização
através da proteção, das condições básicas de sobrevivência e do desenvolvimento de
seus membros no plano social, cognitivo e afetivo (DESSEN; POLONIA, 2006).
O referencial teórico que subsidiará a busca pelos objetivos anteriormente traçados
envolve o estudo dos seguintes temas: gênero e violência de gênero. Em função de
esta pesquisa estar em andamento, torna-se importante esclarecer alguns conceitos e
reflexões teóricas sobre os temas pesquisados ainda na presente seção desta
comunicação.
O conceito de gênero é fundamentado nas noções de cultura, natureza e sociedade,
pois é usado das mais diversas formas e com os mais diversos significados. Hoje em
dia vem sendo abordado de forma a diferenciar formas culturais de formas naturais.
Logicamente, como não vivemos isolados, mas sim em contato com outras pessoas,
em sociedade, nos relacionamos constantemente e são essas relações as que
chamamos de relações de gênero. Falar de gênero e de relações de gênero não é
falar só de mulher, mas sim de jeitos de ser, de relações entre homens e mulheres, de
todas as relações: as sociais, culturais, econômicas e até as religiosas (CORNAGLIA,
2004).
Para entender a violência de gênero, deve-se inicialmente compreender que as
pessoas são distintas umas das outras. Quando falamos em cultura, referimo-nos a
valores que carregamos e com os quais nos identificamos. Com isso, não há espaço
para tudo o que for diferente na sociedade que vivemos. Acostumamo-nos a
discriminar aquele que era “diferente”, dedicando menor valor às relações humanas e
sociais. (SCHEIDER, et al., 2011).
Essas diferenças implicam em desigualdades presentes nas mais diversas culturas,
como: gênero, sexualidade, raça/etnia, classe social, fases da vida e opção religiosa.
Essas desigualdades nada mais são do que justificativas que usamos para diferentes
formas de excluir, dominar, oprimir, ou impedir as mesmas oportunidades, direitos e
possibilidades a alguém ou a um grupo. (SCHEIDER, et al. 2011).
A violência de gênero ocorrerá no momento em que a diferença gerada pelas
desigualdades se transformarem ou resultarem em um conflito. A violência de gênero
pode ser perpetrada no âmbito doméstico, mas também em outros âmbitos sociais
como, por exemplo, na comunidade, no trabalho e na escola.Os professores e
professoras precisam estar sempre “alertas” a questões que provocam situações de
violência, procurando construir formas de assegurar o respeito às diferenças,
garantindo direitos iguais para todos.

Metodologia
A metodologia utilizada na presente pesquisa é eminentemente qualitativa. A
pesquisa, para Minayo (1993), é um fenômeno de aproximações e distanciamento
sucessivos entre a realidade (por meio de dados) e a teoria. Essas aproximações
entre a teoria e a realidade acontecem em prol do avanço do entendimento do tema
trabalhado, tanto do ponto de vista empírico, da prática, quanto do ponto de vista da
teoria.
As técnicas de pesquisa utilizadas neste estudo serão entrevistas semi-estruturadas
com os professores e análise de documentos. As entrevistas são técnicas que
permitem atingir um nível de compreensão da realidade humana, tendo como objetivo
conhecer como as pessoas percebem o mundo, favorecendo as diferentes opiniões,
as crenças, os valores e os significados que as pessoas atribuem a si (FRASER;
GONDIM, 2004). As entrevistas ocupam um lugar de destaque, pois permitem um
diálogo amplo favorecendo o acesso às opiniões, às percepções dos entrevistados e
também às compreensões das motivações e dos valores. (FRASER; GONDIM, 2004).
Além das entrevistas, serão utilizados documentos existentes na escola que relatam
ocorrências envolvendo atos de violência de gênero. Esses documentos serão
solicitados através das secretarias das escolas que participarão da pesquisa.
Geralmente, esses documentos são anotações feitas em livros, como por exemplo,
livros de ata, onde são apresentadas as ocorrências existentes, que, posteriormente,
serão descritas em tabelas.
Após as entrevistas realizadas com os(as) professores(as), o conteúdo das gravações
será transcrito, sendo realizada posteriormente uma análise desse conteúdo (BARDIN,
2010), na qual serão abstraídas as categorias de análise a partir do conteúdo do
material que responde às questões relativas à pesquisa.
Essas técnicas empregadas durante a análise vão proporcionar a obtenção dos dados
descritos a partir das mensagens recebidas durante a realização da pesquisa. Minayo
(2003, p. 74) enfatiza que a análise de conteúdo visa verificar hipóteses e/ou descobrir
o que está por trás de cada conteúdo manifesto. “[...] o que está escrito, falado,
mapeado, figurativamente desenhado e/ou simbolicamente explicitado sempre será o
ponto de partida para a identificação do conteúdo manifesto (seja ele explícito e/ou
latente)”.
A finalidade da análise de conteúdo é produzir inferência, trabalhando com vestígios e
índices postos em evidência por procedimentos mais ou menos complexos (PUGLISI;
FRANCO, 2005, p. 25), ou seja, através da análise é possível realizar, por
consequência, os resultados esperados com os objetivos da pesquisa.

Resultados e Discussões

A pesquisa está em andamento, por isso ainda não há resultados das análises. O
projeto encontra-se em fase de elaboração, estando em fase de finalização do
referencial teórico. A pesquisa de campo, que inclui a coleta de dados, somente
ocorrerá após a qualificação do projeto, ou seja, após setembro de 2013.

Conclusões

Como resultado prático, espera-se ajudar o professor a ter mais clareza sobre como
agir diante de atos de violência de gênero e qual pode ser a sua contribuição como
professor e cidadão, registrando em seus cadernos de aula ou em atas da escola
todos os acontecimentos presenciados por ele, bem como instrumentalizando-o para
agir no momento dos eventos de violência entre os alunos e alunas. Estudar o tema da
violência de gênero no contexto das escolas atendidas pelo PROERD significa que o
projeto possui relevância, uma vez que pretende instrumentalizar as professoras e os
professores para lidar melhor com situações futuras de violência de gênero. Com esse
conhecimento adquirido, esse professor pode passar a contribuir com a formação
social desse aluno ou dessa aluna, fazendo com que haja a possibilidade de ele se
tornar um cidadão capaz de perceber as diferenças e respeitá-las. Assim, além da
contribuição social, este projeto possui relevância empírica, pois através dele se
propõe uma qualificação/formação sobre o tema violência de gênero para professores
como produto técnico. Por fim, há a possibilidade de essa qualificação reforçar os
ensinamentos realizados pelo PROERD, permitindo que tal trabalho tenha
continuidade durante a ausência dos instrutores. Por meio da qualificação proposta, é
possível que a escola tenha profissionais mais capacitados no assunto, possibilitando
um diferencial em termos de conhecimento, bem como que os registros e
encaminhamentos que porventura ocorrerem sejam feitos de forma mais adequada e
que, acima de tudo, possa trazer o resultado esperado, que é a melhor capacitação
para a solução do conflito.

Para refletir!


ANÁLISE DA VIOLÊNCIA EM ESCOLAS PÚBLICAS E PRIVADAS DE BAIRROS DE CLASSE SOCIAL A, B, C DO MUNICÍPIO DE SÃO LEOPOLDO – RS


RESUMO

Diante de uma sociedade juvenalizada em que os valores e atitudes éticas vêm se perdendo a cada dia, a escola tem o papel de instruir, orientar e formar crianças e jovens a viver e trabalhar em um mundo diversificado e em constante mudança. No entanto, tal função vem sendo ofuscada pelos diversos tipos de violência ocorrentes nesses locais. Frente a essa problemática, estudos relacionados ao tema são importantes para promover a sensibilização por parte da comunidade escolar, famílias e entidades relacionadas à segurança e educação. É com esse intuito que o presente trabalho busca analisar, através de dados estatísticos, a relação existente entre violência e classe social em determinadas escolas da rede de ensino pertencentes ao município de São Leopoldo/RS, como também a incidência de alunos vítimas do bullying e a percepção da comunidade frente à segurança pública. Os dados foram coletados a partir de um questionário pré-elaborado aplicado em turmas de terceiro ano do ensino médio pertencentes a seis escolas da rede municipal, entre elas quatro públicas e duas privadas. Foram escolhidas duas instituições por bairro, nas diferentes classes sociais (A, B e C). A análise indicou que a violência e o preconceito sofrido por alunos (bullying) estão presentes em todas as escolas da rede de ensino público e privado no município independente da classe social a qual estão incluídas.

Palavras-chave: Violência nas escolas. Bullying. Classes sociais.


ABSTRACT

Front of a young society in which values and ethical attitudes are being lost every day, the school's role is to educate, guide and instruct children and young people to live and work in a diverse world and constantly changing. However, this role has been overshadowed by the various types of violence occurring at these sites. Against this problem, studies related to the subject are important to promote awareness the school community, families and organizations related to safety and education. Within this intention that paper seeks to examine, through statistical data, the relationship among violence and social class in some schools in the district of Sao Leopoldo / RS, as well as the incidence of  victims of bullying and the perception of the community against public safety. Data were collected from a pre prepared questionnaire applied to groups of third year high school by six municipal schools, including four public and two private. Two institutions were chosen by district, in different social classes (A, B and C). The analysis indicated that violence and preconception suffered by students (bullying) are present in all schools in the network of public and private schools in the county regardless of social class which are included.
Key-words: Violence in schools. Bullying. Social classes

1 INTRODUÇÃO

Violência e criminalidade são palavras que estão cada vez mais presentes no cotidiano das pessoas acarretando medo e insegurança. A Organização Mundial da Saúde (OMS) conceitua a violência como:
Uso intencional da força física ou do poder real ou em ameaça, contra outra pessoa ou contra si próprio ou contra outro grupo de pessoas que resulte ou tenha grande possibilidade de resultar lesão, morte, dano psicológico, deficiência de desenvolvimento ou privação. (OMS, 2010)
A violência é um fenômeno complexo que não possui uma causa única, mas sim razões variadas que contribuem para sua ocorrência. Segundo Chesnais (1997), seis fatores contribuem para o aumento da violência no Brasil:
·         fatores sócio-econômicos, oriundos da desigualdade e vulnerabilidade social;
·         fatores institucionais, relacionados à insuficiência do estado, crise dos modelos familiares e recuo do poder da igreja;
·         fatores culturais, como problemas de origem histórica, conflitos étnico-raciais e de desordem moral;
·         demografia urbana, devido ao crescimento das taxas de natalidade e expansão urbana desordenada causando grandes aglomerados urbanos;
·         poder da mídia, que ao enfatizar notícias sobre violência, acaba influenciando a percepção do cidadão; e, por fim,
·         a globalização mundial, através da disseminação do crime organizado.
Infelizmente, a violência cada vez mais faz parte do nosso dia-a-dia, o que pode ser constatado em todos os meios de comunicação.  Rodrigues afirma que:
A violência é contemporânea do homem. Filósofos, cientistas políticos, sociólogos e psicólogos tem se dedicado ao estudo do comportamento agressivo e violento entre os homens, mas resultados desanimadores têm sido obtidos no concerne à prescrição de meios capazes de evitar, ou ao menos diminuir, a agressividade humana. (Rodrigues, 1978, p. 363)
            Estudos afirmam que a violência pode ser caracterizada de acordo com diferentes variáveis, relacionadas:
·           às vítimas (crianças, mulheres, idosos, etc.);
·           aos agentes (gangues, jovens, policiais, etc.);
·           à natureza da ação (física ou psicológica);
·           à motivação (política, social, econômica, racial, etc.);
·           ao local de ocorrência (urbano ou rural); e
·           à relação entre a vítima e o agente (violência familiar, entre conhecidos ou desconhecidos).
Os impactos da violência trazem danos sociais e políticos que podem ser mensurados a partir da transmissão de violência entre gerações, redução da qualidade de vida e comprometimento do processo demográfico. Não há soluções estabelecidas para prevenção e controle da violência, mas existem diversas propostas. Entre as propostas de prevenção, pode-se relacionar a questão da redução da pobreza e da melhoria na área da educação. Já como medidas de controle, muitos defendem uma maior quantidade e disponibilidade de recursos policiais e mais vagas no sistema prisional.
Considerada como fenômeno multidisciplinar, a violência necessita de diferentes forças governamentais e sociais para promover fatores de prevenção e controle. Conforme Rosa,
segurança é um bem fundamental para as pessoas, para o país e uma das principais obrigações do Estado para com o cidadão, uma vez que ter segurança significa viver sem estar sob risco de sofrer uma violação de sua propriedade, de sua integridade física, de sua liberdade ou de sua vida. O convívio em sociedade só é possível quando cada indivíduo tenha um mínimo de segurança que lhe permita trabalhar, estudar, consumir, aprimorar-se e divertir-se, em casa ou na rua, sem que esteja sob risco de ser agredido ou lesado. (Rosa, 2009, p. 08)
Fatores diversos como a precariedade dos serviços públicos e de qualidade de vida, unidos à falta de oportunidades, emprego e lazer, além das escassas perspectivas de mobilidade social, entre outros, são motivadores de ações violentas.  Tal conjuntura motivou a realização deste trabalho, o qual buscou estudar os mecanismos de violência no âmbito escolar, uma vez que, como colocado anteriormente, este tema está ligado à educação e perpassa pelos bancos escolares.  Destarte, como educadores, também é de nossa responsabilidade desestimular práticas que possam incitar a violência.
Assim sendo, este trabalho procurou analisar uma possível relação entre violência e classes sociais em escolas da rede de ensino do município de São Leopoldo,RS.  Além disto, procurou-se verificar a incidência de alunos vítimas de bullying, bem como a percepção da comunidade frente à segurança pública em geral.

1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO DO TEMA

Nos últimos anos o Brasil passou a ser associado ao fenômeno do crime e da violência, tanto interna quanto externamente.  Tal fato é constatado através da mídia que veicula matérias mostrando rebeliões, conflitos diversos envolvendo meliantes, policiais, movimentos sociais etc.  O Estado do Rio Grande do Sul, o mais meridional do país, também apresenta altos índices de violência, especialmente nas proximidades de sua capital, a região metropolitana de Porto Alegre (RMPA).
O município de São Leopoldo, foco deste trabalho, pertence à RMPA, dista pouco mais de trinta quilômetros da capital e vem sendo retratado pela mídia como um dos mais violentos do Estado.  O incremento populacional do município nas últimas décadas, um possível gerador de violência, resulta, principalmente, de migrações alavancadas por baixos preços da terra, pelas facilidades de emprego nas áreas de expansão econômica, pela interligação das malhas urbanas e por processos emancipatórios em períodos relativamente recentes (BRUNET et al, 2007).  Nos últimos anos, o município tem experimentado um expressivo crescimento da pobreza e do desemprego, além de um expressivo aumento dos índices gerais de violência (HENNINGTON, 2008).
Fundada em 1824, São Leopoldo é o berço da colonização alemã no Brasil.  Os primeiros imigrantes chegaram a Porto Alegre, capital da província de São Pedro do Rio Grande, em 18 de julho de 1824.  Logo depois, foram enviados para a desativada Feitoria do Linho Cânhamo, um estabelecimento agrícola do governo, que não dera resultados.  Essa feitoria localizava-se à margem esquerda do Rio dos Sinos que banha a região. [1]
São Leopoldo conta atualmente, segundo IBGE,  com uma população estimada de 214.087 habitantes, distribuídos em uma área de 102,739 km2.  Possui uma área urbana de 69,87 km2 (68,29%) contra uma área rural de 14,84 km2 (14,50%), além de uma área de preservação de 17,60 km2 (17,21%). (IBGE 2010) O município é composto de 24 bairros, possuindo distintas características de desenvolvimento seguindo uma urbanização segmentada conforme apontam o Plano Diretor Municipal, o Zoneamento Específico para as zonas, bem como a Planta de Valores Venais para cobrança de IPTU. PMSL( conforme Secretaria Municipal de Planejamento e Coordenação (Seplan).
Este regramento fez com que os bairros começassem a ter características próprias.  A divisão provocada pelo Rio dos Sinos (zona sul e zona norte) colaborou para a análise realizada em função de uma classificação por camada social (alta, média, baixa e de interesse social).  O núcleo central possui o metro quadrado mais caro do município na planta de valor venal, possuindo uma característica comercial mais acentuada.. Os bairros do entorno (Morro do Espelho, Padre Réus, Cristo Rei) são bairros com características residenciais de classe alta.  Os bairros Jardim América, Santa Tereza, Duque de Caxias, Fazenda São Borja, Rio Branco, Pinheiro, Campestre, formados a partir dos corredores de desenvolvimento, ou seja, das principais avenidas comerciais, constituem-se como bairros mistos de classe média, com residências, indústrias e comércios.  Já o bairro Feitoria, também caracterizado como zoneamento misto, possui áreas de interesse social destinadas às classes sociais mais baixas.
Outra particularidade observada é a divisão do município pelas rodovias BR 116 e RS 240.  Na zona oeste, separados pela BR 116, situam-se os bairros São João Batista, Vicentina e São Miguel.  O primeiro caracteriza-se por ser constituído por uma zona mista onde vivem famílias de classe predominante média/baixa, comportando indústrias de grande e médio porte, residências e pequenos comércios.  Os demais bairros possuem uma característica mais residencial, contemplando, também, áreas especiais de interesse social passíveis de regularização fundiária.
Na zona norte, o regramento se dá a partir do bairro Scharlau.  A partir desse bairro, suas adjacências evoluíram de acordo com sua localização.  O bairro Arroio da Manteiga possui características residenciais, comerciais, industriais, contendo também áreas especiais de interesse social.  O bairro Campina possui a mesma característica, assim como os bairros Rio dos Sinos e Santos Dumont, todos com históricos de enchentes e alagamentos por estarem situados abaixo da cota de inundação.  Na zona noroeste, encontra-se o bairro Boa Vista que possui loteamentos a partir da RS 240, com características industriais e comerciais até uma zona residencial mais seletiva junto à divisa com o município de Novo Hamburgo.  Esta região igualmente apresenta uma zona de áreas especiais de interesse social ligada ao bairro Boa Saúde, hoje pertencente ao município vizinho, com grandes vazios urbanos a serem ocupados.

1.2 AS ESCOLAS E O MUNICÍPIO

São Leopoldo pertence à 2ª Coordenadoria Regional de Educação.  Conforme a Secretaria de Educação do Rio Grande do Sul – SEC (2010), atualmente existem 132 escolas no município, sendo 43 particulares, 27 estaduais, 62 municipais e uma universidade.  Ainda, de acordo com a Secretaria, em 2008, foram realizadas 7.423 matrículas na rede escolar de ensino médio, sendo 6.423 na rede pública estadual e 1.000 em escolas particulares.  O corpo docente deste nível de ensino é composto por um total de 499 professores, sendo 358 docentes vinculados a escolas públicas estaduais e 141 a escolas privadas.

1.3 A REALIDADE DA ESCOLA NA SOCIEDADE ATUAL

Vivemos em uma sociedade onde valores e atitudes éticas vêm perdendo espaço a cada dia.  Neste contexto, a escola tende a assumir determinados papéis outrora dedicados à família.  Cunha (2010) dispõe que
Se antes a função da escola era instruir e a função da família era educar, hoje essa ‘divisão do trabalho’ educativo vai ganhando novos contornos. Talvez o maior desafio presente nesta relação diga respeito à proporção que a escola adquire em nossa sociedade. (CUNHA, 2010, p. 640)

Mais adiante, a autora salienta, ainda, para o fato de que a partir da idade moderna há uma nova identificação das famílias para com a escola, onde esta ganha
uma centralidade e o reconhecimento de que é, por excelência, um espaço de sociabilidade que ultrapassa as fronteiras de classe social e que não é apenas um espaço de aprendizagem cognitiva, dos conteúdos curriculares. A criança aprende na escola também regras, normas e valores que serão importantes para o seu futuro papel de adulto. Todos, de alguma forma, tem algo a esperar da escola. (CUNHA, 2010, p. 640)

A escola tem, portanto, uma função primordial: a de instruir, orientar e formar crianças e jovens a viver e trabalhar em um mundo diversificado e em constante mudança.  No entanto, tal papel vem sendo ofuscado pelos diversos tipos de violência ocorrentes nesses ambientes.
Rebés (2000) aponta ao fato de que a escola é reconhecida como espaço propício à violência.  Os atos de violência atingem tanto escolas públicas quanto particulares, acarretando consequências à sociedade, tornando todos os indivíduos inseguros diante da violência.  Conforme o autor, os
atos de vandalismo, o uso de drogas, as brigas entre colegas, as trocas de tiros, os espancamentos, as ameaças e, até mesmo, mortes prejudicam o presente e o futuro da escola, evidenciando um desejo de destruição. Ir à escola, atualmente, resulta em medo e intranqüilidade (sic). O próprio Estado há muito tempo, não tem garantido acesso à escola pública para todos, o que desencadeia novas modalidades de exclusão social pelos mecanismos de seleção que o sistema educativo oferece. Como conseqüência (sic), a escola se torna um dos alvos das várias manifestações de violência, interna e externa. Esse conjunto de situações oportunizou a realização de estudos, pesquisas e reflexões, com o objetivo e o desejo de encontrar o equilíbrio na vida da sociedade e da instituição escolar. (REBÉS, 2000, p. 03)

O comportamento agressivo é fruto da estrutura de nossa sociedade e pode se manifestar tanto na vida familiar quanto na escolar.  A educação oferecida pela família desempenha relevante papel na formação de uma personalidade mais ou menos agressiva, desenvolvendo diferentes tipos de comportamento.  Trata-se de um momento onde as necessidades, os interesses, as curiosidades e os comportamentos dos jovens entram em choque com os valores sistematizados da sociedade.
Discussões que envolvem violência, delinquência juvenil, drogas etc. afligem pais e educadores.  Nesse contexto, Rodrigues afirma que:
Os processos tradicionais de aprendizagem (condicionamento clássico e operante) explicam grande parte dos comportamentos agressivos exibidos pelas pessoas. De fato, se uma criança consegue o que quer através da manifestação do comportamento agressivo, é provável que este comportamento tenda a repetir-se com mais freqüência (sic) nessa criança do que em outra cujo comportamento agressivo não surtiu o efeito desejado. (Rodrigues, 1978, p. 371)

É importante salientar que, no ambiente escolar, além dos conceitos e da memorização conferidos pelos educadores, encontra-se um homem e seu viver.  Abordando a contribuição de Vygotsky para o ensino de Geografia, Cavalcanti (2005, p. 196, apresenta que “o desenvolvimento do pensamento conceitual, entendendo que ele permite uma mudança na relação cognitiva do homem com o mundo, é função da escola e contribui para a consciência reflexiva do aluno.”
Estas considerações fazem-se presentes na medida em que a formação de um pensamento reflexivo permite problematizar questões sobre a organização do espaço, causas sociais, políticas e econômicas que geram desigualdades entre os homens.  Em qualquer situação que viva, o ser humano tem sempre presente o seu contexto social, sendo este de fundamental importância para sua integração.  A importância destas discussões perpassa belos bancos escolares, em especial por disciplinas das áreas humanas, como a Geografia.  Cabe ao educador trabalhar estas questões em sala de aula para estimular uma afável conduta social dos estudantes, uma vez que a integração social do indivíduo está ligada à sua vida escolar e esta ao seu convívio familiar.  Uma quebra deste relacionamento pode gerar ações violentas.
Destarte, deve-se evitar que o ambiente escolar torne-se um lugar de tédio, de desânimo, de desconforto e, muitas vezes, de autoritarismo, o que pode gerar atos de violência.  Faz oportuno apresentar as considerações tecidas por Santos (2011, p. 60), com relação às aulas de Geografia na escola:
Por parte de muitos alunos, a escola representa o lugar em que as horas não são medidas pelo tempo do relógio, porque o tempo não passa, os minutos congelam nas aulas petrificadas de uma geografia decorativa alheia à realidade e que conta o mundo sob o olhar fragmentário de partes e gavetas que pouco se comunicam.

Situações como a descrita pela autora são comuns à quase totalidade das escolas.  Tais condições podem influenciar, direta ou indiretamente, a prática da violência no meio escolar.

1.4 O BULLYING

Bullying é uma palavra de origem inglesa adotada em muitos países para definir o desejo consciente e deliberado de maltratar outra pessoa e colocá-la sob tensão (Fante e Pedra, 2008).  Bully pode ser traduzido como valentão, brigão, tirano.  Como verbo, bully, significa tiranizar, amedrontar, brutalizar, oprimir.  O substantivo bullying descreve, por conseguinte, o conjunto de atos de violência física ou psicológica, intencionais e repetidos, praticados por um indivíduo (bully) ou grupo de indivíduos com o objetivo de intimidar ou agredir outro indivíduo (ou grupo de indivíduos) incapaz de se defender.
O bullying é uma forma de violência que resulta em sérios prejuízos, não apenas ao ambiente escolar, mas à toda a sociedade pelas atitudes de seus membros.  Está diretamente relacionado à formação de gangues, ao uso de drogas e de armas, à violência doméstica e sexual, aos crimes contra o patrimônio e, consequentemente, à necessidade de altos investimentos governamentais para atender a demandas da justiça, dos presídios, dos programas sociais, da saúde e, é claro, da educação.
Trabalhando especificamente esta questão, Fante e Pedra (2008), apontam para uma série de ações que podem ser compreendidas como atos de bullying.  Apelidar, ofender, zoar, sacanear, humilhar, intimidar, encarar, constranger, discriminar, aterrorizar, amedrontar, tiranizar, excluir, isolar, ignorar, perseguir, chantagear, ameaçar, difamar, insinuar, agredir, bater, chutar, empurrar, derrubar, quebrar, furtar ou roubar pertences são considerados atos de bullying.  Como pode-se deduzir, tais ações são bastante comuns no meio escolar.
Alguns fatores propiciam o bullying, com sua banalização e legitimização.  Atitudes culturais como o desrespeito, a intolerância, a desconsideração ao “diferente”, a hierarquização nas relações de poder estabelecidas em detrimento da fraqueza de outros, o desejo de popularidade e a manutenção do status a qualquer preço traduzem esta condição. (FANTE E PEDRA, 2008).
Cabe colocar, outrossim, que certos “professores” também praticam bullying contra seus alunos.  Muitos estudantes são perseguidos, intimados, ridicularizados, coagidos e acuados, inclusive em sala de aula.  Ocorrências como estas geram sensação de impotência e prejudicam o rendimento escolar, promovendo uma desmotivação para o estudo não só da vítima específica como de outros estudantes.  Estas situações podem provocar, também, reações violentas.

3 MATERIAIS E MÉTODOS

Como fora posto, este trabalho procurou analisar uma possível relação entre violência e classes sociais em escolas da rede de ensino do município de São Leopoldo.  Além disto, procurou-se verificar a incidência de alunos vítimas de bullying, bem como a percepção da comunidade frente à segurança pública no geral.
Para isto, utilizou-se uma metodologia baseada na coleta de dados em escolas distribuídas aleatoriamente em quatro bairros do município de São Leopoldo.  Foram escolhidas duas escolas em cada um dos bairros de classes “A” (alta), “B” (média) e “C” (baixa) selecionados.  Procurou-se selecionar uma escola pública e outra privada por bairro.  Entretanto, como no bairro de classe social “C” não existem escolas privadas, foram escolhidas duas escolas públicas.
O mapa a seguir (figura 1) apresenta a distribuição das escolas selecionadas no município de São Leopoldo.  O ponto 1 na figura representa a escola pública 1 localizada no bairro de classe social “C”; o ponto 2 representa a escola privada localizada no bairro de classe social “A”; o ponto 3 representa a escola pública localizada no bairro de classe social “A”; o ponto 4 representa a escola pública 2 localizada no bairro de classe social “C’; o ponto 5 representa a escola privada localizada no bairro de classe social “B” e o ponto 6 representa a escola pública localizada no bairro de classe social “B”.
Mapa do município de São Leopoldo.
Escala
 0               1200 m     



Escala

1200 m
                                                                             

Figura 1 – Localização das escolas no município
Fonte: Secretaria Municipal de Planejamento, 2010.
 






Após a seleção das escolas, foram confeccionadas perguntas que abordavam temas relacionados à violência, preconceito e segurança pública.  Foram tecidas as seguintes indagações:
·         Você já presenciou alguma forma de violência em sua escola?  Que tipo?
·         Você já sofreu algum tipo de preconceito na sua escola?
·         Você já sofreu algum tipo de ameaça na escola? Por quem?
·         Você já viu alguém armado na escola?
·         Você se sente seguro no caminho para a escola?
·         Você se sente seguro na sua escola?
·         Como você considera o policiamento nas proximidades de sua escola?
·         Você confia na polícia?
Estas questões, com algumas adequações, formaram um questionário aplicado em turmas do terceiro ano do ensino médio de cada uma das escolas, em diferentes turnos (diurno/noturno).  O número de alunos variou de 22 a 34 por sala.  Conforme solicitação das escolas participantes da pesquisa, os nomes das instituições não foram divulgados.
Após a aplicação dos questionários, os dados coletados foram organizados em tabelas para serem convertidos em gráficos.  A partir daí, os dados foram analisados com base na sua distribuição espacial.

Os resultados obtidos através da análise dos questionários evidenciaram que os alunos de todas as escolas, independentemente de classe social ou pelo fato de ser pública ou privada, já presenciaram alguma forma de violência.  A maior incidência ocorreu na escola privada do bairro de classe social “A”, onde todos os alunos confessaram já terem testemunhado algum tipo de violência, conforme pode ser verificado pela Figura 2.
Em relação à forma de violência, de acordo com os resultados mostrados pela Figura 3, tem-se que “briga entre alunos” foi a mais frequente, seguida por “briga de alunos com pessoas de fora da escola”, ambas ocorrendo em todas as escolas.  Outro tipo de violência presente em todas as escolas foi a “briga entre torcidas organizadas”.  Na escola privada de classe “B”, os alunos citaram apenas duas formas de violência por eles presenciadas: “briga entre alunos” e “briga de alunos com pessoas de fora da escola”.
Figura 2 – Percentual de escolas que já presenciaram alguma forma de violência.
Fonte: Autoria própria, 2010.




Figura 3 – Percentual de tipos de violência citados por alunos.
Fonte: Autoria própria, 2010.




Observou-se, também, a ausência de “briga entre alunos e professores” em escolas privadas, ao contrário do que ocorre nas escolas públicas (Figura 3).  Formas diversas de violência citadas por alunos dizem respeito a brigas envolvendo funcionários, pais, assim como um fato inusitado ocorrido em uma das escolas públicas de classe social “C”: um roubo, cuja vítima, um aluno, acabou ferido por disparo de arma de fogo em frente à escola.  Este fato foi relatado por um dos alunos durante a aplicação do questionário na turma.
Posteriormente foi perguntado aos alunos se os mesmos já haviam sido vítima de algum tipo de preconceito na escola, tanto por parte de professor ou colega.  Todos os alunos, nas diferentes escolas públicas e privadas em todas as classes sociais, já sofreram algum tipo de preconceito.  A Figura 4 retrata esta condição. 

Figura 4 – Percentual de vítimas de preconceito.
Fonte: Autoria própria, 2010.


É importante destacar que, quando do questionamento feito aos alunos sobre o sofrimento de ameaças, todos os alunos afirmaram já terem sido vítimas desse delito, conforme pode ser conferido pela Figura 5.  Quanto ao autor da ameaça, percebeu-se que a prática se dá principalmente por colegas de escola, seguido por pessoas de fora da escola.  A escola pública 1, de classe social “C”, apresentou um percentual mais significativo deste tipo de ameaça.  É importante salientar, ainda, que na escola privada de classe social “A”, foi mencionado caso de ameaças advindo de professores.
Figura 5 – Percentual de ameaças e seus autores.
Fonte: Autoria própria, 2010.


Conforme fora apresentado anteriormente, um dos questionamentos realizados dizia respeito ao fato dos alunos já terem, ou não, presenciado alguém armado na escola.  Foi considerada “arma”, todo objeto capaz de ferir outro indivíduo, contemplando armas brancas (facas e canivetes) e armas de fogo (pistola e revólver).  Causou certa surpresa a constatação de que foram avistadas pessoas armadas em todas as escolas, com maior frequência na escola privada de classe social “A”, seguido pela escola pública de classe social “B”.
Outros fatores considerados no questionário diziam respeito à segurança no caminho percorrido pelos alunos desde sua casa até a escola.  Na maioria das escolas, os alunos se sentem seguros nesse trajeto.
De igual sorte, os estudantes se sentem seguros dentro das escolas, sejam elas públicas ou privadas, nos diferentes bairros pesquisados.  Sobre essa questão, observou-se que os alunos se sentem mais seguros em instituições privadas do que nas escolas públicas.  Por exemplo, na escola pública 2, de classe social C, constatou-se o menor índice de segurança (36%) enquanto que a escola privada, de classe social B, apresentou um índice de 100%, ou seja, todos os alunos pesquisados se sentem seguros.
Outro fato analisado através da percepção dos alunos e vinculado aos anteriores, deu-se em relação ao policiamento nas proximidades da sua escola.  Somente as escolas privada, de classe social B e escola pública 1, de classe social C consideram o policiamento bom.  Os alunos das demais escolas o consideraram ruim.
Já com relação à confiança dos estudantes na policia, observou-se um grande descrédito pela polícia nas diferentes escolas e nas diferentes classes sociais.  É interessante observar ainda que, como pode ser visualizado na Figura 6 a seguir, nas classes sociais B e C o índice de rejeição foi bem maior do que na classe social A.
Figura 6: Percentual de confiança de alunos na polícia.
Fonte: Autoria própria, 2010.



5 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES


A análise dos dados coletados evidenciou que as diferentes formas de violência, assim como a intimidação (bullying) estão presentes em todas as escolas que participaram da pesquisa.  Assim, tanto nas escolas públicas quanto nas privadas e tanto bairros pobres quanto em bairros mais abastados, a violência se faz presente.
Talvez, como decorrência da situação acima, averiguou-se que a segurança pública não recebe a confiança da comunidade escolar.  Tal constatação torna-se, no mínimo, preocupante.
Através dos dados obtidos, inferiu-se que não existe classe social mais ou menos protegida da violência.  Em decorrência, há um anseio pela busca de alguma forma de proteção por parte dos entrevistados.
Seja como for, de acordo com os resultados obtidos, percebe-se que a violência não respeita classe social, ou, em outras palavras, pode-se dizer que não é a pobreza que causa a violência.  É claro que se trata de uma constatação baseada em dados isolados, de uma cidade que compõe a Região Metropolitana de Porto Alegre.  Todavia, supõe-se que estes dados devam ser repetidos em outras cidades brasileiras, o que merecerá novas inferências assemelhadas.
Quanto ao bullying, presente em todas as escolas avaliadas no estudo, é certo que esta prática que interfere no processo de aprendizagem e no desenvolvimento cognitivo, sensorial e emocional dos alunos.  Este tipo de violência além de favorecer o surgimento de medo e insegurança nas escolas, tanto para aqueles que são alvos como para os que assistem calados às mais variadas formas de ataques, pode interferir na vida futura dos cidadãos.  O baixo nível de aproveitamento, a dificuldade de integração social, o desenvolvimento ou agravamento das síndromes de aprendizagem, os altos índices de reprovação e evasão escolar, podem ser consequências do bullying.
Finalmente, no que diz respeito à desconfiança demonstrada pela comunidade escolar em relação à força policial, tem-se que esta advém de um pré-julgamento baseado em fatos históricos onde a polícia era tida como força repressora da sociedade.  Muitas opiniões foram formadas a partir de uma determinada época onde a ação mais enérgica da policia foi utilizada como solução frente às transformações principalmente políticas de um período histórico brasileiro.  Hoje em dia, quiçá por notícias veiculadas pela mídia, ao demonstrar mais enfaticamente ações mal sucedidas dos órgãos de segurança, a antiga desconfiança persiste.  Do mesmo modo, a corrupção existente nesses órgãos, igualmente ressaltada pela mídia, coloca em xeque o verdadeiro papel da polícia.
Para se pensar numa sociedade menos violenta, é necessária uma mudança drástica na forma de se pensar o problema.  Certas atitudes devem ser adotadas para uma efetiva transformação dessa realidade.
Com relação à questão violência-classe social, os resultados obtidos conduzem à ideia de desmitificar um preconceito existente, de que a violência se dá onde a classe social é mais baixa.  Os resultados obtidos apontaram ao fato de que, ao menos para o município de São Leopoldo, a violência não está relacionada à classe social.
Em relação ao bullying, tem-se que sua causa está relacionada especialmente pela omissão das escolas, do governo e da família.  Neste sentido, sugere-se uma maior intervenção das direções das escolas nos atos ocorridos no âmbito escolar, uma vez que estas parecem esquivar-se desta função.  Também se faz necessário a disponibilização de espaços pra debater o tema.  Os governos, por sua parte, deveriam dispor de políticas educacionais de orientação frente à problemática, capacitando o corpo docente para prepará-lo a intervir nessas questões, inclusive na formatação dos conteúdos a serem ministrados.  Os pais, por sua vez, devem manter-se próximos a realidade escolar de seus filhos, evitando, assim, que sofram com esse tipo de exclusão.
No que diz respeito à polícia, propõe-se que a mesma adote procedimentos adequados, a fim de que a sociedade sinta o comprometimento com o seu trabalho, resultando em confiança e respeito.  Certos programas, como o PROERD, exercido pela Brigada Militar em escolas da rede publica estadual, tem obtido sucesso no combate ao consumo de drogas em escolas.
Ações como as apontadas certamente não resolveriam o problema da violência nas escolas.  No entanto, a dedicação e o comprometimento de cada órgão responsável, além da sociedade em geral, por certo amenizariam os altos índices de violência e reduziriam os atuais índices vivenciados pelo município de São Leopoldo.


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[1]     Prefeitura Municipal de São Leopoldo. Disponível em:<http://www.saoleopoldo.rs.gov.br>. Acesso em: 04 junho 2012.