sexta-feira, 12 de setembro de 2014

VIOLÊNCIA DE GÊNERO EM ALUNAS E ALUNOS NA PERCEPÇÃO E NOS REGISTROS DOS PROFESSORES DE ESCOLAS ATENDIDAS PELO PROERD (SÃO LEOPOLDO/RS)

VIOLÊNCIA DE GÊNERO EM ALUNAS E ALUNOS NA PERCEPÇÃO E NOS
REGISTROS DOS PROFESSORES DE ESCOLAS ATENDIDAS PELO PROERD
(SÃO LEOPOLDO/RS)

ARLINDO WEBER DE OLIVEIRA, MARIA DE LOURDES BORGES (Orient.), PAULA PINHAL
DE CARLOS (Orient.)

Área Temática:CIÊNCIAS HUMANAS

Resumo: O objetivo do presente artigo é analisar, a partir da percepção dos professores e dos
seus registros, as manifestações explícitas e implícitas de violência, ocorridas em escolas do
município de São Leopoldo/RS, cometidos por meninas e meninos em ambiente escolar.
Salienta-se que a presente pesquisa encontra-se na fase do projeto.

Palavras-Chave: Gênero; Violência de Gênero


Introdução

O fenômeno da violência acompanha o ser humano há muito tempo, fazendo parte da
vida cotidiana da sociedade, apresentando-se das mais diversas maneiras.
Diante do contexto de constante convívio com situações de violência nas escolas
contempladas pelo programa PROERD de São Leopoldo (RS), quando o primeiro
autor deste estudo entrou no mestrado em Memória Social e Bens Culturais do
UNILASALLE percebeu que há uma questão de pesquisa importante a ser estudada
sobre o tema da violência nas escolas. A oportunidade de pesquisa gira em torno da
busca pelo entendimento de como acontece a violência de gênero dentro das escolas
que são atendidas pelo PROERD, nas quais trabalho como policial militar e instrutor
do referido programa. Cabe ressaltar que as escolas não foram escolhidas
aleatoriamente para fins deste projeto, e sim em função de que se encontram em
situação de vulnerabilidade social no Município.
Por conta disso, entende-se que o tema da violência de gênero é importante,
especialmente em um contexto de escolas que se deparam frequentemente com tais
situações. A importância do projeto reside também na proposta de construção de um
produto que visa qualificar os professores sobre o tema violência de gênero,
pretendendo instrumentalizá-los para lidarem melhor com tais situações. Pretende-se,
portanto, contribuir através de material didático e de aplicação de um curso de
formação para professores, totalizando 40h.
Os assuntos relacionados à violência e especificamente à violência de gênero estão
sendo discutidos e abordados por instituições escolares mais frequentemente. Esse é
um tema que preocupa toda a comunidade escolar. Os professores deparam-se com
atos de violência implícitas ou explícitas e, muitas vezes, não estão capacitados para
tomar determinada ação ou para lidar com o problema. Na experiência como instrutor
do PROERD, por mais de uma vez percebi que alguns professores preferem fazerem
de conta que não estão percebendo, por optarem por não se envolver ou até mesmo
por medo de alguma repressão. Além disso, muitos professores desconhecem as
formas legais de ocorrências e encaminhamentos que são realizados quando
presenciam um ato de violência.
Assim, o objetivo geral da presente pesquisa é analisar, a partir da percepção dos
professores e dos seus registros, as manifestações explícitas e implícitas de violência,
ocorridas em escolas do município de São Leopoldo/RS, cometidos por meninas e
meninos em ambiente escolar. Já os objetivos específicos são: (a) analisar como são
percebidos pelos professores os casos de violência de gênero explícita entre alunos e
alunas; (b) analisar como são percebidos pelos professores os casos de violência de
gênero implícita entre alunos e alunas; (c) compreender se ou como são registrados e
encaminhados os casos de violência de gênero pela escola; (d) elaborar um curso
educativo voltado aos professores com o tema “violência de gênero nas escolas".
Assim, a discussão do tema da violência de gênero apresenta importância justamente
para a possibilidade de ajudar o professor a ter mais clareza sobre como agir diante de
atos de violência de gênero. Também é relevante pela contribuição que pode ser dada
como professor e cidadão, registrando em seus cadernos de aula ou em atas da
escola todos os acontecimentos presenciados por ele. Os avanços sociais e
empíricos são ressaltados na conclusão desta comunicação.
A capacitação proposta como produto técnico fruto da presente pesquisa ocorrerá a
partir da análise dos dados coletados na própria escola, partindo de estudos de casos
reais, ocorridos naquele ambiente e no contexto social no qual a escola está inserida.
Portanto, a realidade de cada escola será analisada a partir dos casos já existentes e
registrados. Tal pesquisa realizar-se-á em escolas estaduais e municipais de São
Leopoldo que estão em situação de vulnerabilidade social e que foram contempladas
com o programa PROERD (Programa Educacional de Resistência às Drogas e à
Violência).
O PROERD é um programa que apresenta uma grande aceitação por parte da
sociedade leopoldense e principalmente por parte de diretores, professores e alunos.
É mais um aliado que contribui com a resolução de questões difíceis de serem
abordadas, como é o caso das drogas e da violência. Percebe-se que, quando se
trabalha questões como prevenção à violência em determinada escola, os índices
acabam diminuindo ou até mesmo não existindo. É uma “parceria”, como é dito
informalmente por muitos professores, pois ajuda com questões sobre as quais não há
um conhecimento especializado por parte deles. Muitos professores já
sobrecarregados de tarefas diárias, ou muitas vezes exaustos por percorrerem várias
em escolas em busca de um melhor retorno financeiro, acabam encontrando no
policial PROERD uma ajuda para abordar esses assuntos.
Através da percepção dos professores que lidam com um contexto de violência na
escola, espera-se ser possível identificar as contribuições que a família, a escola e a
sociedade podem realizar na construção de um ambiente escolar sem violência.
Pensa-se que é fundamental a interação entre família, escola e sociedade para o
enfrentamento de um contexto de violência. A convivência em ambiente escolar, que
muitas vezes se manifesta de forma violenta, é sem dúvida fruto das relações e
experiências que esses adolescentes vivenciam. A família, junto com a escola, é uma
instituição fundamental que dá suporte ao crescimento físico, intelectual, emocional e
social dos indivíduos, atuando como propulsora ou inibidora. A principal contribuição
que se espera da escola refere-se ao conhecimento com uma preocupação no
processo ensino-aprendizado. Já a família deve fomentar o processo de socialização
através da proteção, das condições básicas de sobrevivência e do desenvolvimento de
seus membros no plano social, cognitivo e afetivo (DESSEN; POLONIA, 2006).
O referencial teórico que subsidiará a busca pelos objetivos anteriormente traçados
envolve o estudo dos seguintes temas: gênero e violência de gênero. Em função de
esta pesquisa estar em andamento, torna-se importante esclarecer alguns conceitos e
reflexões teóricas sobre os temas pesquisados ainda na presente seção desta
comunicação.
O conceito de gênero é fundamentado nas noções de cultura, natureza e sociedade,
pois é usado das mais diversas formas e com os mais diversos significados. Hoje em
dia vem sendo abordado de forma a diferenciar formas culturais de formas naturais.
Logicamente, como não vivemos isolados, mas sim em contato com outras pessoas,
em sociedade, nos relacionamos constantemente e são essas relações as que
chamamos de relações de gênero. Falar de gênero e de relações de gênero não é
falar só de mulher, mas sim de jeitos de ser, de relações entre homens e mulheres, de
todas as relações: as sociais, culturais, econômicas e até as religiosas (CORNAGLIA,
2004).
Para entender a violência de gênero, deve-se inicialmente compreender que as
pessoas são distintas umas das outras. Quando falamos em cultura, referimo-nos a
valores que carregamos e com os quais nos identificamos. Com isso, não há espaço
para tudo o que for diferente na sociedade que vivemos. Acostumamo-nos a
discriminar aquele que era “diferente”, dedicando menor valor às relações humanas e
sociais. (SCHEIDER, et al., 2011).
Essas diferenças implicam em desigualdades presentes nas mais diversas culturas,
como: gênero, sexualidade, raça/etnia, classe social, fases da vida e opção religiosa.
Essas desigualdades nada mais são do que justificativas que usamos para diferentes
formas de excluir, dominar, oprimir, ou impedir as mesmas oportunidades, direitos e
possibilidades a alguém ou a um grupo. (SCHEIDER, et al. 2011).
A violência de gênero ocorrerá no momento em que a diferença gerada pelas
desigualdades se transformarem ou resultarem em um conflito. A violência de gênero
pode ser perpetrada no âmbito doméstico, mas também em outros âmbitos sociais
como, por exemplo, na comunidade, no trabalho e na escola.Os professores e
professoras precisam estar sempre “alertas” a questões que provocam situações de
violência, procurando construir formas de assegurar o respeito às diferenças,
garantindo direitos iguais para todos.

Metodologia
A metodologia utilizada na presente pesquisa é eminentemente qualitativa. A
pesquisa, para Minayo (1993), é um fenômeno de aproximações e distanciamento
sucessivos entre a realidade (por meio de dados) e a teoria. Essas aproximações
entre a teoria e a realidade acontecem em prol do avanço do entendimento do tema
trabalhado, tanto do ponto de vista empírico, da prática, quanto do ponto de vista da
teoria.
As técnicas de pesquisa utilizadas neste estudo serão entrevistas semi-estruturadas
com os professores e análise de documentos. As entrevistas são técnicas que
permitem atingir um nível de compreensão da realidade humana, tendo como objetivo
conhecer como as pessoas percebem o mundo, favorecendo as diferentes opiniões,
as crenças, os valores e os significados que as pessoas atribuem a si (FRASER;
GONDIM, 2004). As entrevistas ocupam um lugar de destaque, pois permitem um
diálogo amplo favorecendo o acesso às opiniões, às percepções dos entrevistados e
também às compreensões das motivações e dos valores. (FRASER; GONDIM, 2004).
Além das entrevistas, serão utilizados documentos existentes na escola que relatam
ocorrências envolvendo atos de violência de gênero. Esses documentos serão
solicitados através das secretarias das escolas que participarão da pesquisa.
Geralmente, esses documentos são anotações feitas em livros, como por exemplo,
livros de ata, onde são apresentadas as ocorrências existentes, que, posteriormente,
serão descritas em tabelas.
Após as entrevistas realizadas com os(as) professores(as), o conteúdo das gravações
será transcrito, sendo realizada posteriormente uma análise desse conteúdo (BARDIN,
2010), na qual serão abstraídas as categorias de análise a partir do conteúdo do
material que responde às questões relativas à pesquisa.
Essas técnicas empregadas durante a análise vão proporcionar a obtenção dos dados
descritos a partir das mensagens recebidas durante a realização da pesquisa. Minayo
(2003, p. 74) enfatiza que a análise de conteúdo visa verificar hipóteses e/ou descobrir
o que está por trás de cada conteúdo manifesto. “[...] o que está escrito, falado,
mapeado, figurativamente desenhado e/ou simbolicamente explicitado sempre será o
ponto de partida para a identificação do conteúdo manifesto (seja ele explícito e/ou
latente)”.
A finalidade da análise de conteúdo é produzir inferência, trabalhando com vestígios e
índices postos em evidência por procedimentos mais ou menos complexos (PUGLISI;
FRANCO, 2005, p. 25), ou seja, através da análise é possível realizar, por
consequência, os resultados esperados com os objetivos da pesquisa.

Resultados e Discussões

A pesquisa está em andamento, por isso ainda não há resultados das análises. O
projeto encontra-se em fase de elaboração, estando em fase de finalização do
referencial teórico. A pesquisa de campo, que inclui a coleta de dados, somente
ocorrerá após a qualificação do projeto, ou seja, após setembro de 2013.

Conclusões

Como resultado prático, espera-se ajudar o professor a ter mais clareza sobre como
agir diante de atos de violência de gênero e qual pode ser a sua contribuição como
professor e cidadão, registrando em seus cadernos de aula ou em atas da escola
todos os acontecimentos presenciados por ele, bem como instrumentalizando-o para
agir no momento dos eventos de violência entre os alunos e alunas. Estudar o tema da
violência de gênero no contexto das escolas atendidas pelo PROERD significa que o
projeto possui relevância, uma vez que pretende instrumentalizar as professoras e os
professores para lidar melhor com situações futuras de violência de gênero. Com esse
conhecimento adquirido, esse professor pode passar a contribuir com a formação
social desse aluno ou dessa aluna, fazendo com que haja a possibilidade de ele se
tornar um cidadão capaz de perceber as diferenças e respeitá-las. Assim, além da
contribuição social, este projeto possui relevância empírica, pois através dele se
propõe uma qualificação/formação sobre o tema violência de gênero para professores
como produto técnico. Por fim, há a possibilidade de essa qualificação reforçar os
ensinamentos realizados pelo PROERD, permitindo que tal trabalho tenha
continuidade durante a ausência dos instrutores. Por meio da qualificação proposta, é
possível que a escola tenha profissionais mais capacitados no assunto, possibilitando
um diferencial em termos de conhecimento, bem como que os registros e
encaminhamentos que porventura ocorrerem sejam feitos de forma mais adequada e
que, acima de tudo, possa trazer o resultado esperado, que é a melhor capacitação
para a solução do conflito.

Nenhum comentário: